quarta-feira, 22 de abril de 2009

A carta que ninguém conhece

- Sim, pegarei minha caravela e rumarei pelo mar com a minha esquadra.

Passarei meses nos mares, enfrentarei tempestades e, mesmo que perca alguns homens, seguirei em frente.

Mas para onde irei?

Penso em procurar uma terra bonita, nova. Algo como uma Terra prometida. Um lugar perfeito, diferente de tudo que a Europa já viu até hoje. Tão diferente, que todos vão querer ir para lá no futuro. Todos serão felizes na minha terra.

Em meados de abril, quando eu aportar em algum pedaço de continente, este vai ser o meu paraíso. Anseio loucamente por gritar: "Terra à vista!" Estou a ensaiar, inclusive.

Gostaria que os habitantes daquela terra - a qual eu ainda nem conheço e nem sei se existe - fossem diferentes. Estou cansado da face européia das pessoas. No entanto, seria ótimo "construir" um descendente por lá, mestiço.

Escolherei a minha esposa a dedo, depois de muito avaliar e experimentar, talvez. Afinal, eu gostaria que todas as mulheres andassem nuas e que eu as pudesse apreciar, sem moderação alguma.

Faremos amizade com as pessoas daquela terra e alguns até vão trabalhar conosco, de tão competentes. Traremos muitas histórias para contar, muitos presentes - conseguidos por meio de trocas, já que lá não haverá moeda corrente - e uma carta, assim como essa.

Tem tudo anotado aí, senhor escrivão?

- Sim, capitão.

- Então envie esta carta para o rei e diga que rumaremos para numa nova terra.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Somente o necessário

necessário: adj. 1. Indispensável, imprescindível. 2. Forçoso, inevitável. 3. Que deve ser feito, cumprido. 4. Aquilo que é necessário.

Para alguns, o amor é necessário.
Para muitos, ele nem existe.

O clichê máximo dos livros de poesia é dizer que só não acredita no amor quem ainda não o sentiu.
Se é tão clichê, tem que ter alguma fundamentação. Se todo mundo diz, algum motivo tem. Se todo mundo acredita, deve ser verdade.

Há, ainda, aqueles que acreditam no amor, sim, mas por tempo determinado. Em certa hora, deixam de acreditar e desistem de pensar nele, desistem de tentar provar o contrário. Se entregam à vida, indispostos a se apaixonarem.

Como se estes aí citados pudessem mandar em alguma coisa. Tsc. O medo de amar não é maior que o amor, em si, em seu estado maior. Em seu estado quando necessário. Em seu estado em que deixa de ser um substantivo abstrato e passa a ser algo concreto e palpável.

É quando o amor se materializa, em alguém indispensável e imprescindível. Necessário e existente.

Você.

sábado, 18 de abril de 2009

Culto

Tento escrever textos cultos, mas só saem textos longos.

Textos em que só cultuo a cultura, mas sem cultismo aparente.

Tudo oculto.

O feriado nosso de cada dia

"Temos nosso próprio tempo", como disse Renato Russo, há alguns anos atrás. Há tempos, não temos mais todo o tempo do mundo, mas, ainda, temos todos os sonhos.

Há tempos, tínhamos o nosso próprio tempo, o tempo para nós. Hoje, temos tudo, menos o tempo. Trabalhamos, estudamos, pagamos contas, brigamos pelos nossos direitos e cuidamos da nossa vida, inclusive. Mesmo sendo tão jovens.

Às vezes, nos pegamos num mundo paralelo, em Alfa. Um mundo distante, tão distante, que nem existe. Apenas fitamos os olhos em algum lugar, sem motivo, sem pensamentos aparentes e sem tempo corrente. Sem tempo contado, um mundo onde toda informação é entrópica.

Cada minuto em mundos de Alfa, Beta ou Gama, deve ser valorizado, pois há o equilíbrio, não há informações. Mas nem só de desvios oculares vive a existência, ou não, de nossos pensamentos.

Em momentos em que fechamos os olhos e sonhamos, entramos em um outro estado de espírito. Entramos em um feriado mental, um estado de folga, de descanso, de relaxamento. Em que tentamos resgatar, ou pelo menos conservar, o tempo perdido.

E a cada dia em que entramos num feriado mental, queremos outro real. Só precisamos de tempo. Do tempo que, há tempos, não temos. O tempo passa e continuamos esperando por feriados.

Vamos viver nossos sonhos, temos tão pouco tempo.

Explicitamente tácito

Tudo aquilo que nos é explicado, recebe o nome de explícito. Aquilo que aprendemos "via" outra pessoa, "via" alguém mais experiente, por meio de uma explicação.

E, por falar em experiência - o substantivo, desta vez - é dela que vem o conhecimento tácito. Aquele que é tido pela troca de ideias e ideais entre as pessoas. Aquele adquirido com a vivência e, em muitos casos, com a convivência.

Temos nossas próprias experiências e ouvimos as dos outros, portanto. Sabemos o que é fácil e o que é difícil por meio de empirismo e provas ou por meio do nosso querido senso comum.

E, através deste aí, é que viramos a mesa. Tornamos tudo explícito, de acordo com o nosso conhecimento, vivência e troca de experiências. Trata-se de uma transformação do tácito para o explícito. Mas não é bem isso que vivemos o tempo todo.

Um paradoxo. A antítese das antíteses. O dilema dos enigmas. O teorema sem demonstração. O desafio à filosofia. A dúvida da humanidade. O explícito e o tácito, como no título. Como na vida.

Aquilo que é o bom e o ruim ao mesmo tempo, que faz com que tudo seja bilateral. O tudo e o nada. O conhecimento e a ignorância. A crítica e o elogio.

Tudo ao mesmo tempo, fora de nosso controle. Muito além do que podemos imaginar e muito aquém também. O entendimento e o desentendimento. Na verdade, apenas o não-entendimento.

É. Há coisas que nunca vamos entender, mas sempre vamos amar de maneira explícita. Explicitamente tácita.