sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Paracetamol

Amor. Ódio. Olhos azuis. Cabelos pretos. Cabelos castanhos. Mesas. Cadeiras. Aulas de inglês. Preposições. Posições. Liberais. Liberalismo. Conservadores. Socialistas. Karl Marx. Utopia. Filosofia. Anarquia. Bagunça. Não.

Críticas. Elogios. Leitura. Análise. Karl Marx. Método dialético. Formação. Materialismo. Não.

Platão. Sócrates. Aristóteles. Conflito. Transformação. Sociedade. Instrumentos. Materialismo. Comunicação. Jornalismo. Karl Marx. Platão. Pensamento. Filosofia. Análise. Não.

Equação. Conflito. Dialética. Loira. Uruguai. Situação. Transformação. Olhos azuis. Morena. Outra situação. Instrumentos. Livros. Karl Marx. Não.

Capital. São Paulo. Dinheiro. Economia. Autor. Lucros. Trabalho. Karl Marx. Alemanha. Inglaterra. Capitalismo. Morena. Cabelo preso. Olhos azuis. Atenção. Engels. Burguesia. Tênis verde. Pulso. Dor. Não.

Não no pulso.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Lavando janelas

Eles começam lá de baixo, pelas portas, alcançáveis. Onde passa tanta gente, mas ninguém os nota. Vão, então, subindo pouco a pouco, andar a andar. E a coisa vai ficando mais difícil. E mais. E mais. Lá, nas janelas do topo, não á quem não os veja. É impossível que não sejam notados. O perigo é grande. Pequenas e, aparentemente, frágeis cordas os sustentam. Cair é muito mais fácil do que subir. Lavadores de janelas são heróis.

A cidade de São Paulo é um prédio enorme, dos mais sujos ainda, quem quer alguma coisa na política, começa de baixo: câmara municipal de cidade pequena, média, grande e enfim, São Paulo. Depois vem a possibilidade de assumir a prefeitura e, andar a andar, o candidato sobe, antes não era notado, mas começa a ganhar o seu espaço no prédio e a coisa vai ficando mais difícil, e mais, e mais, até que chega a hora em que todos o vêem e ele limpa a cidade inteira, para que o vejam ainda melhor.

Lá no topo, a coisa complica, o perigo é grande, cordas frágeis o sustentam, cair é fácil, muito fácil e qualquer tentativa de subir na cobertura é um risco sem precedentes. Políticos não são heróis. Nem lavando janelas.

domingo, 21 de setembro de 2008

Discurso político

Sou um candidato. Nasci em 1959, no interior do estado. Vim para esta cidade jovem, trabalho desde cedo. Me formei na faculdade e logo em seguida já tive o meu primeiro mandato como vereador daqui. E assim avancei na política, lentamente, até tentar assumir o cargo de prefeito.

Fui responsável por vários projetos na câmara, como a construção de 15 novas avenidas, 10 pontes, 5 escolas e 1 parque. Agora, como prefeito, tenho mais propostas para trabalhar para a nossa cidade.

Penso em urbanizar favelas. Quero construir escolas. Quero teatros. Penso, também, em hospitais. Há muita gente pobre morrendo por aí. Quanto ao trânsito, é óbvio que novas avenidas estão no plano de governo. E nossa população precisa de emprego. Precisa de casas. Precisa de tudo, de maneira acessível.

Vou fazer...

"Senhor candidato, o seu tempo se acabou."

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O país do futebol-arte

Quantos anúncios de peças de teatro você vê por dia? E de exposições em museus? São pouquíssimas as chances de algo do gênero passar na televisão, por exemplo. Só existe uma arte que é valorizada no país: o futebol.

Seja no rádio, no jornal, na TV, ou na Internet, o Brasil não valoriza seus pintores, atores, escultores, malabaristas, etc. Todos estes não recebem apoio de suas famílias e governos, o que resulta na fraca divulgação de seus trabalhos.

São poucos os brasileiros que são criados em meio artístico e que recebem devida atenção. Normalmente, tratam-se em, algumas vezes, de familiares de pessoas já famosas, o que facilita o ingresso na mídia. O tipo de artista brasileiro com mais chances de subir na vida é o jogador de futebol.

Mesmo a situação atual não sendo favorável para o futebol, falando-se de espetáculo em si, a chance de um menino de quinze anos de ser famoso é muito maior com a bola no pé do que com um pincel na mão.

Pode até ser que a arte receba uma valorização maior no futuro, porém, deido ao seu baixo potencial financeiro, nunca será superior ao futebol em materia de "espetáculo". Pois, para o brasileiro, esta sim é a arte. O futebol-arte.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Manhã de segunda-feira

Segunda-feira de manhã.

Frio dos deuses. As pessoas andam normalmente pelas ruas. Exceto pelo fato de ser uma segunda-feira, de manhã e o tempo estar frio, como os deuses.

Que lançaram o frio na Terra, com toda frieza, em plena segunda-feira, de manhã. Na qual ninguém quer acordar e, quando acorda, logo quer dormir de novo.

Novamente, é mais um dia de trabalho, mais um final de semana que se acaba e mais uma segunda-feira que chega. Fria.

Gelada, como o sorvete, ou a água de côco que você tomou na praia. Ou gelada como a cerveja que você tomou no bar.

Mas é segunda-feira.

Fria.

Repetitiva, como uma segunda-feira. Fria.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Dia de gravação

O mundo estava logo ali, me olhando. Eu tentava desviar minha atenção, olhava para os lados, mas não é assim que funciona. A câmera te encara e você tem que encará-la. Obrigatoriamente. Sem medo. Maldito boletim de TV.

Impossível, na primeira vez. Afinal, é a primeira vez.

Escrevemos os nossos textos, decoramos e tínhamos que nos virar em frente à luz, à câmera e ao olhar atento das pessoas. Erramos, repetimos, tentamos várias vezes. Tudo até ficar (quase) bom.

Escolhi ser logo um dos primeiros, pra ir logo duma vez e me livrar da responsabilidade. A morte magnética me aguardava. Eu estava tranquilo, até me posicionar em frente à câmera. Eu tremi, eu não desviei os meus olhares, eu esqueci o texto, eu engasguei. Mas li.

Boa noite. Milhões de fãs aguardam o lançamento de Death Magnetic, o décimo álbum de estúdio do Metallica.

O sucessor de St. Anger tem data de estréia marcada para essa sexta, dia 12, mesmo dia em que se inicia a turnê mundial da banda.

Segundo o baterista Lars Ulrich, a banda trabalhou duro na gravação do CD e eles não poderiam ter feito um álbum melhor.

Luiz Henrique Ferreira, para o Anhembi Notícias.

E eu fui embora.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Silêncio no engenho

Já estava em mente escrever algum texto jornalístico, só me faltava o assunto. Com o jogo entre Brasil e Bolívia hoje, apareceram as idéias.

Mas o jogo foi tão feio, que nem é digno de merecer um texto.

Pobres dos jornalistas, que ficaram (ainda estão) acordados acompanhando o desastre no Rio de Janeiro.

0 a 0. Fora o show, de horror.

Fico em silêncio, como a torcida e a imprensa deveriam ficar.

domingo, 7 de setembro de 2008

Mulheres

Você combina de sair com uma garota e, por ser uma ocasião especial, até demora um pouco mais pra sair de casa. Dez minutos no banho, um pra pentear o cabelo, um pra colocar a roupa e mais dois pra escovar os dentes.

Lá vai você. Ansioso e mais do que arrumado. Em aproximadamente quinze minutos, nos quais você enrolou bastante e enrola ainda mais. Dirige devagar e pega o caminho mais longo. Tudo pra gastar o tempo. Talvez pela ansiedade. Talvez por outro motivo.

"Me dá cinco minutos pra eu terminar de me arrumar?"
"É claro!" - Realmente acreditamos que serão só cinco.

Doce ilusão.

Enquanto esse tempo é mais do que suficiente para (a maioria de) nós, é menos do que um quinto do que elas precisam.

Homens costumam pegar logo a primeira camiseta da gaveta e, se esta está amassada, o problema é dela. A calça pendurada na cadeira, usada por dois dias está OK, "vou usar mais uma vez só, depois eu lavo".

Mulheres experimentam todas as roupas de todas as gavetas e do guarda-roupa. Se todas estiverem amassadas, todas vão ser passadas, mesmo que sejam só pra ser experimentadas mesmo. Todas as combinações possíveis são tentadas, sejam repetidas ou não.

Elas se olham no espelho, cuidam da maquiagem, passam cremes, perfumes e etc. Vem, então, a frase, dita para o próprio reflexo: "estou pronta".

Lindas, perfeitas, chegam ao carro, algum bom tempo depois do combinado. Dizem, ainda, que o relógio as traiu, os minutos foram insuficientes e que não estão prontas.

O caminho é longo. O restaurante desejado fica longe e as reclamações, por você ter chegado muito cedo e ter a impedido de se arrumar por completo, deixam as ruas mais extensas, criam trânsito e fazem com que todos os semáforos fiquem vermelhos.

Ao chegar no restaurante, você não consegue parar de olhar pra ela: "como está linda". Só que ela não olha pra você, de maneira alguma. Todas as atenções estão voltadas, não para os outros homens, mas para as outras mulheres.

Você olha, então, para os lados e já toma um tapa, meio que sem saber o porquê. Vem a justificativa, logo depois: era pra você olhar para as roupas delas, não para elas.

É claro, se você mal presta atenção nas roupas da sua namorada - pois a acha linda de qualquer jeito, até quando ela acorda e se acha horrível - por que prestaria atenção nas outras, ainda mais com a sua garota do seu lado?

Não entenda as mulheres, elas nem se vestem pra você.
Mas você gosta delas, afinal elas se despem pra você.


ps.: foi, ao mesmo tempo, um dos textos mais bonitos e o mais machista que eu escrevi (rs).

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Com sede

Um dia ganhei um pote do qual eu devia tomar conta. Podia colocar o que eu quisesse nele, era grande o suficiente pra colocar qualquer coisa. Era resistente o suficiente pra suportar tudo. Então, bastava tomar conta dele, mas tinha um porém.

Se sentisse sede, deveria tomar cuidado. Sem essa de querer tudo dele ao mesmo tempo. Era uma coisa de cada vez, pois o pote se tornava frágil quando se tirava algo dele.

Maldito pote.

(In)constância

Ser inconstante é ser você
É nunca ser o mesmo
É ser aquilo que se é
E não aquilo que se vê

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O sucesso está no fracasso

Paraíba era um cara estranho. Egocêntrico, tímido e antipático. Era diferente de seus poucos amigos que, nem Deus sabia como, gostavam dele. Ele devia ter as suas virtudes, o problema é que ninguém as conhecia, ainda.

João Carlos fazia parte do vasto círculo social de Paraíba, que tinha aproximadamente três pessoas, incluindo a sua mãe. João se importava com o amigo, diferentemente do pai dele, que achava que o filho não tinha solução mesmo.

Enquanto navegava pela Internet, João viu algo que lhe chamou a atenção: uma universidade fazia uma pesquisa a respeito da sedução. Os cientistas procuravam estudantes de ambos os sexos que tinham problemas de relacionamento. No momento, só uma palavra veio à cabeça de João: Paraíba.

Foi ele, então, falar com o amigo a respeito da pesquisa. Paraíba, a princípio, desconfiou, achou ser uma brincadeira, mas depois aceitou participar. Afinal, havia um certo tempo desde que sua última - e primeira - namorada havia dado um término à relação deles.

Um cientista era o responsável pela recepção e pelas instruções às "cobaias" na universidade. Durante a palestra, dizia que existia uma fórmula a ser testada por quem tinha problemas de relacionamento. Não era nada químico, nem farmacêutico e, sim, psicológico.

Bastava usar de persuasão, mas não a comum, uma persuasão de tipo diferente. Paraíba ouvia atentamente as palavras daquele homem que dizia que, quanto mais ele se depreciasse ao conversar com uma mulher, mais chances ele teria de ter um relacionamento com ela. Ou seja, se ele passasse às mulheres o fracasso que ele era, obteria sucesso.

O então antipático, tímido e egocêntrico personagem logo se dispôs a tentar usar o método proposto e a relatar o êxito ou a falha. Saiu da faculdade e já atacou o seu primeiro alvo: uma menina feia no ponto de ônibus ali perto. Em vão.

Paraíba decidiu, então, não baixar o nível, não atacar nenhum alvo e, sim, chegar para conversar com uma menina. Foi ele conversar com aquela garota que estava ao lado de seu alvo anterior.

O destemido antipático começou a usar o que tinha aprendido, tomando o cuidado necessário para não expor o seu egocentrismo. Bastaram cinco minutos de conversa para que Paraíba pegasse o mesmo ônibus que ela.

O itinerário era a casa da menina. Paraíba se sentia animado com a situação e não parava de zombar de si mesmo. Ele era realmente um fracasso.

Paraíba era tão fracassado, que não se lembrava da história quando questionado por seu amigo João Carlos para que contasse a mesma.

"Paramos num bar perto da casa dela. Tomei um negócio e dormi. Acordei na rua e sem dinheiro."

"Paraíba, até o seu sucesso é um fracasso."

ps.: Texto escrito para faculdade, totalmente fictício! (rs)